Our Fears

São as imagens que dão vida aos textos, e os textos que dão movimentos às imagens. E rodam todos como karaminholas na kuka da Krika.



terça-feira, 2 de novembro de 2004

A placa caída

A placa caída



Quando eu soube que estava grávida, fui invadida por um temor.

Sabia que minha vida mudaria, não me achei pronta para todas aquelas mudanças. Confesso, envergonhada, que quis me livrar do feto. Porém, não imaginas a alegria que me deu segurar o Lucas em meus braços após 4 horas de um parto difícil.

Pedi para ficar com meu bebê a sós, enquanto o amamentava, percorria sua pele macia e delicada com as pontas dos meus dedos. Como meu bebê era vermelho e tranqüilo.

Ainda é difícil pensar em doar as coisas do meu filho tão amado, cada vez que entro em seu quarto uma dor aguda atravessa meu coração.

Sinto falta do seu sorriso fácil, até do seu choro no meio da noite, e mais ainda dos seus primeiros passos, dele se apoiando na barra da minha saia, dizendo sua primeira palavra: “mamã”.

O meu Lucas era lindo, aquele sorriso maroto depois de estilhaçar meus vasos no chão, puxando as toalhas, me desmontava.

Nada tinha tanto valor para mim quanto seu sorriso.

Foi muito doloroso para mim, saber que meu filho foi atropelado, e ver seu pequeno corpo coberto por um lençol.
Tiveram que me separar do meu filho morto com violência, eles me sedaram. A minha melhor parte foi enterrada com o Lucas. Sobrou um vazio tão profundo na minha vida.

Eu não vi, mas noticiaram nos jornais, o motorista assassino tinha 16 anos, estava drogado, e atropelou primeiro a placa que indicava que haviam crianças, e devia circular devagar.

Ele atropelou mais do que a placa, ele atropelou meu filho, meu Lucas que tanto amei. O tal motorista arrancou o que eu tinha de mais precioso.



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